Mas, como é óbvio, passar pela Feira de São Mateus obriga a degustar um jantarinho num dos muitos restaurantes disponíveis para o efeito. E o churrasco é a palavra de ordem. A ementa pode até variar de local para local, mas há elementos que são uma constante, e o bom do churrasco é um deles. Podem ser febras, franguinho, secretos, bifanas, costeleta, bife, ou até mesmo peixinho, nada que umas boas brasas (ou um grelhador eléctrico) não possam oferecer. Tudo regadinho com uma boa pinga da casa, da região, num jarrinho à maneira... Ah, é de lamber os beiços!
Com essa premissa, a entrada deste ano na Feira de São Mateus procurou seguir a tradição. Lá fomos nós ocupar uma mesita num dos restaurantes localizados num dos muitos caixotes pré-fabricados de tamanho XXL dispostos na cidade. A sala estava quase vazia, fruto, talvez, da hora precoce com que nos dispusemos a jantar. Corpinhos arrumados nas cadeiras, ementas distribuídas, e vamos lá começar a degustação!
À nossa frente, o couvert. Uma cestinha com uma meia dúzia de pedaços de pão, um pratinho com 2 minúsculos pacotinhos individuais de manteiga e uma malga com 9 (sim, demo-nos ao trabalho de as contar), repito, 9 azeitonas. Sim senhor, um inicio auspicioso para o jantar das 10 almas que se encontravam ali reunidas. Numa atitude de alguma boa vontade ainda acreditámos que mais alguns componentes seriam adicionados a tão parco manjar... Era bom, era! Mas nada nos faria ainda fazer prever a hecatombe que se seguiria...
Escolhas feitas, restava aguardar pela empregada de mesa para assinalar os pedidos. Muito a custo lá apareceu a jovem, franzina e sorridente, disposta a registar cuidadosamente os pratos desejados. Mas a simpatia não implica eficiência ou celeridade, e o simples acto de pedir os pratos foi uma tormenta agonizante. De bloquinho nas unhas, a jovem necessitava de se apoiar na mesa ao lado para registar os pedidos efectuados! O que tornou a tarefa morosa e enfadonha, no mínimo...
Para acompanhar a refeição, para além dos obrigatórios refrigerantes e água, foi pedido um jarro de vinho tinto da casa. Célere, a empregada esclareceu que o néctar dos Deuses seria servido em garrafa. Até aí, tudo bem, pensámos. Longe estávamos nós de pensar que nos seria apresentada uma garrafa de vinho tinto acabada de sair do frigorífico, bem fresquinha, como um bom branco deve ser. Será que estamos a sonhar? Decerto teriam muitas outras bebidas para ocupar o frigorífico que não uma garrafa de tintol, mas estamos constantemente a ser surpreendidos com estes pequenos mimos... E ainda não refeitos da surpresa, eis que nos deparamos com uma garrafinha de cola acabada de chegar... E à temperatura ambiente, claro!
10 pratos de carne pedidos. Entre bitoques de porco e vaca, frango de churrasco, bifanas, costeletas e bifes, tudo coisas relativamente rápidas e simples de cozinhar. Os acompanhamentos não diferem: arroz, salada e batata frita, em diferentes combinações, adornam qualquer um destes pratos. Esperava-se um desenrolar rápido e um atempado inicio das hostilidades gastronómicas.
Mas não podíamos estar mais redondamente enganados. Passaram-se mais de 90 minutos até todos os pratos estarem servidos. A mesa foi completada lenta e parcimoniosamente, com cada um dos pratos a ser entregue individualmente, sem companhia. As reclamações choviam, os sorrisos deram lugar a facies de desagrado, ainda para mais porque muitos se mantinham ainda em jejum enquanto os outros começavam a ingerir os víveres, para não esfriarem... Mais, diga-se, para não esfriarem MAIS, uma vez que, incompreensivelmente, os repastos eram entregues um de cada vez, e frios. Como se tivessem ficado parados à espera do resto do pedido da mesa, que teimava em não chegar... Depois do delicioso couvert, que retemperou todas as almas (havia perto de 1 azeitona per capita, não podemos ser muito exigentes...), estar quase 2 horas à espera do jantar é piners, como diz o outro!
E apesar de vinculado, por várias vezes, o desagrado com que constatámos que numa sala progressivamente mais cheia havia mesas a serem atendidas e servidas a um ritmo muito mais acelerado que a nossa, com grupos de dimensão equivalente ao nosso a chegar depois de nós e a pagarem a conta, com café tomado, antes de nós termos sequer terminado de mastigar as solas de sapato que nos serviram, a empregadita ainda veio ter conosco no final da refeição, enquanto levantava os pratos, para perguntar se estava tudo bem... DESCULPE? SE ESTÁ TUDO BEM? NÃO, ESTÁ TUDO MAL!
Ora recapitulemos: couvert ridículo, vinho tinto gelado, cola quente, pratos servidos um de cada vez e demoradamente, com o seu conteúdo mais próximo da temperatura do vinho e de consistência tipo borracha, numa sala em que mesas que foram ocupadas depois de nós foram servidas antes... SERÁ QUE ESTÁ TUDO BEM? Oh menina, reporte a situação ao seu responsável e traga mas é a conta, ó faxavor! Café? CAFÉ? Nem pensar!
E terá sido, quiçá, pelo escarcéu que 3 ou 4 pessoas montaram em plena mesa ao enumerar todos estes pontos negros da noite que, pela primeira vez, houve um acto de restauração atempado, célere e eficiente: a entrega da conta. Finalmente, entraram nos eixos!
E assim começou mais uma ida à Feira de São Mateus, para mais tarde recordar. Com 2 horas passadas de rabo quadrado numa cadeira medonha num caixote hediondo de um dos piores restaurantes onde alguma vez estive. Valeram as posteriores voltinhas pelas tendas do artesanato, das malitas (ai minha rica Prada!) e dos óculos de sol (nada como os fantásticos Ray Beri!)... Porque o jantar, esse meus amigos, foi mesmo para esquecer...